Rasgo folhas sucessivas… falta-me inspiração, falta-me musa…e tu que não vens! Porque me privas de ti, do teu sorriso diáfano? (Patético estado este cantado por Camões – penso).
Mais uma folha rasgada. E tu que não vens!
Distraio os dedos pelo teclado; as palavras saem torpes, disformes, sem âmago, significando nada.
Fora, o sino da igreja rompe autoritário o silêncio tumular de uma noite aldeã; quatro da manhã, anuncia com estertor. (Malditos os idiotas que acharam por bem dotar a nossa pacata aldeia desta mais-valia! Sinais dos tempos; acedo vencido). Nem o Solijenitsine que tenho por companheiro de mesa-de-cabeceira me embala para o merecido sono. Perdido neste limbo etéreo, procuro o teu corpo nu entre os lençóis da cama mas tu não estás lá; o teu hálito quente também não. Sinto falta de não saber onde termina o meu corpo e começa o teu; de ser uno contigo! Tenho saudades dos teus gemidos abafados para não surpreender a minha mãe!
Volto a Gulag; a este meu Gulag feito de ausência.
Quando foi que nos perdemos, meu amor?

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